quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cartas para Pedro

Um dia, eu fui toda alegre te contar uma novidade. Um assunto bobo, do nosso cotidiano, mas que com certeza para nós faria toda a diferença. Você me interrompe dizendo que tinha um assunto sério pra me contar, e que eu precisava ouvir, assimilar, entender e aceitar. Mais do que nunca, tomei uma má impressão destas palavras.
Você se sentou no banco, aquele banco, onde a maior parte das nossas alegrias estava depositada, pois então, você se sentou no ''nosso'' banco e me disse que iria embora.
De primeira, aquilo me soou como uma brincadeira, de péssimo gosto. Eu sorri por alguns segundos e acabei me surpreendendo com uma lágrima que escorria sobre teu rosto, e depois daquela, vieram outras e mais outras. Eu sinceramente estava esperançosa em ser apenas uma brincadeira, mas nunca antes tinha visto você chorar daquela forma.
Eu ajeitei os cabelos atrás da orelha, mordi os lábios num ato de desespero e fiquei quieta olhando para você.
Você levantou a cabeça e me encarou os olhos como nunca antes havia feito. E disse que precisaria ir, e que seria por pouco tempo, que nos veríamos novamente, mas tinha que ir.
Eu, num gesto de insatisfação criei mil e uma soluções para que você ficasse, porque você não poderia me abandonar, não agora que tinha se tornado a minha maior segurança, o meu melhor amigo.
Segurei por muito tempo, mas não consegui conter uma lágrima que me embaçava as vistas, e depois daquela vieram outras, e mais outras. Você passou os dedos sobre o meu rosto e olhou para o céu e disse '' olhe uma estrela cadente. Faça um pedido!'' Você fechou os olhos e me perguntou o que eu havia pedido. Eu permaneci calada e você disse - ''eu pedi para ter você para sempre '‘; depois das palavras ditas, você se levantou e me puxou pelos braços me erguendo. Deu-me o abraço mais forte de todos os outros e foi ali que eu senti que não iria te ver nunca mais.
Você se virou, quando ia saindo olhou para mim e tirou teu colar , deu um beijo e me entregou. Eu mal consegui te agradecer, pois os soluços do meu choro continuo, não me deixavam se quer te olhar.
Eu fui para casa, me tranquei no quarto e puxei do alto do meu armário uma caixinha rosa. Aquela que você me deu nos meus quinze anos, lembra? Pois é, já tenho 20 e ela está aqui comigo, guardando tudo o que era nosso, e hoje é só meu.
Alguns meses depois, eu recebi a ligação da sua mãe, que gentilmente me passou seus telefones e endereços, segundo ela foi um pedido teu não é mesmo?!
Assim que soube teu endereço resolvi te escrever. Uma carta linda, longa e cheia de saudade. Endereçada ao Canadá, sua nova casa.
Um mês depois que lhe enviei a carta, recebi a resposta dela, você dizia estar ótimo e muito bem instalado. Falava-me também que sentia saudades.
Na segunda carta que lhe enviei, lhe perguntei o porquê você havia se mudado, pois naquele dia, em que você se despediu de mim, não me atentei a isso.
Você me respondeu dizendo que havia se alistado e o exercito te mandou para experiências no Canadá.
Depois da segunda vieram à terceira, a quarta, a quinta, a centésima carta e você ainda não voltou.
Passaram-se 3 anos que você se foi. Mandei-te uma carta dizendo que eu havia conhecido um rapaz, e que eu estava gostando dele. Esperei por 2 meses a resposta desta carta, e ela não chegou. Acreditei que fosse ciúmes haha, pois você nunca gostou que eu namorasse então resolvi mandar outra, e a resposta também não chegou. Procurei por muito tempo o caderno, onde eu havia anotado o seu telefone e depois de muito procurar, enfim achei. Liguei e foi uma brasileira que atendeu. Seu nome era Laura, por coincidência era o mesmo nome que o meu. Eu perguntei sobre você e ela me disse que você havia falecido.
Fiquei por algum minuto imóvel com o telefone na mão, tentando não acreditar no que ela tinha falado.
Depois disso, eu comecei a chorar insanamente e gritava o tempo todo, pois eu sabia que não iria mais te ver. Liguei para a casa da tua mãe e ela disse que você havia se acidentado em um exercício no quartel e teu corpo havia chegado para o velório. Mas como? Você me prometeu que era por pouco tempo, você disse que nos veríamos novamente. Fui até a casa da tua mãe e ela se preparava para a sua chegada. Ela me convidou para ir junto, e eu não pude recusar.
Esperamos por cerca de uma hora no aeroporto, quando então nos mandaram para o pátio de celebrações.
Eu vi um aeroleve pousar na pista e então algumas dezenas de soldados se alinharam no pátio. Eu vi você descer do avião, não como eu queria e sim, dentro de um caixão coberto por uma bandeira do Brasil.
Comecei a chorar sem parar, pois não sabia que teu sonho era ser soldado e muito menos que eu correria o risco de ver chegar aqui desta forma .
Pediram para que a família se aproximasse, e sua mãe me puxou pelo braço . Chegamos bem próximos a você. Eu, o teu pai, a tua mãe e teu irmão .
Pediram para que alguém da família fizesse um discurso e a sua mãe parecia pressentir que eu tinha muito a lhe falar.
E ela me olhou com os olhos de uma mãe carente e me pediu que falasse tudo o que eu tinha para falar.
Então eu segurei por alguns instantes o choro e comecei
'' Pedro , mesmo que seu corpo se torne ausente, mesmo que eu não ouça mais a tua voz , mesmo que eu não vá mais sentir o teu abraço, eu sempre te levarei comigo. Sempre me recordarei de cada momento ao teu lado, levarei a diante a alegria que você me ensinou. Mesmo que por algum tempo não nos vejamos, eu vou estar para sempre com você. '‘.
Depois disso, eu olhei para o céu, estava nublado, mas mesmo assim uma estrela cadente passou, e sabe o que eu pedi? Para que eu tivesse você para sempre .

Laura .
R.G

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